LITERATURA BRASILEIRA

Poesias, contos, crônicas, novelas, e romances de autoria de Jonas Furtado ganham este espaço para divulgação aos interessados em literatura brasileira, seja de cunho universal, seja de caráter regional no que se refere ao que sonha, sente e pensa o homem. Tais escritos levam os leitores do simples deleite do prazer da leitura a reflexões quase amenas sobre o estar no mundo (oscilando às vezes entre universos possíveis e impossíveis). Venha conosco navegar nas águas de um acontecer poético que nasce.


segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Um mundo alelo para...


Como era possível que ele soubesse o que ocorria? Está preso a um mundo de três dimensões e sequer intui sobre. E como costume, veste sua roupa de caminhada e segue ao rumo da estrada para queimar calorias advindas dos excessos do dia anterior. O observador o observa. Leva a mão no peito, tenta respirar forte, tenta tossir: está tendo um ataque. Um passante o acode. Depois outro. Razões são especuladas. Corpo viril, força nos braços, mas um ataque! Cai. Um carro para, o toma e segue para o hospital... Fulminante! A notícia se espalhou pelos meios.

Como era possível que eu soubesse o que ocorria? Vivo apenas e pouco penso nisso. E como de costume, vou caminhar! Queimar calorias. Comi muito ontem na festa da Ju. Não dou por quem possa estar me observando... Vou. Mas decido pela calma porque uma leve pontada ensaia no peito, ao que levo a mão. Dou meia volta já sem esforço algum. Um caminhante passa, me cumprimenta. Depois outro. Minhas razões são esquecidas. Tenho força nas pernas e nos braços. Um auto passa com pressa! Talvez percebesse alguma agitação em seu interior. Fiquei o dia todo sem redes sociais.

by Jonas Furtado

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Trovamigos

E lembra de julho o vinte
Que nesta vida de luta
Não deve faltar o ouvinte...

- aquele que bem escuta.


Não há de faltar o amigo
Para quem boa fé espalha
_ Planta, nas horas, contigo
O bem maior da batalha.
 
by Jonas Furtado

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Nós verbais

 
"nós é nós"
Nós somos nós
nós são nós ...
nós e Nós
 
by Jonas Furtado

Trovaçaí


alguém disse que tem gosto
de terra o nosso açaí
é de fora e vira o rosto...
pra as coisas boas daqui.


então faço a minha trova
quem puder, vamos embora
de terra o gosto? É uma ova!
pois não dar apreço agora.
 
ou com peixe ou camarão
adubado com farinha
falo sério, só verão
que não é farofa minha.
 
com ele se faz sorvete
pudim e se faz mingau
se não aprovar, cacete!
de jeito, cara de pau.
 
By Jonas Furtado

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Retinas dos anos 70

Trago no olhar o aroma das ruas de 73
sinto porque vi
sei porque aspirei
 
Revejo no caderno velho
todos os meus poemas
velhice, sandice e novidade pequena
 
De que são feitos os filmes das retinas
os poemas no caderno afiançam-me estas tintas
que em memórias transformei
 
Devo transplantar de suporte - o filme envelhecido
e a alma do poema aparecerá
não mais palpável como a açucena
 
Trago na mente da minha avó o olhar
- sereno pouso nos postes de madeira -
e uma poesia invisível dentro da luz que amei
por Jonas Furtado

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Poema do inverno

faço poema no inverno
as letras, as palavras postas no papel
o papel posto no varal dos sonhos...

o tempo e o vento flamulam-no
se resistir, fica a poesia - alma que dilui as intempéries
roupa com que visto os meus dias
 
faço poema do inverno
os sonhos na chuva pedem sol ameno
ao menos o tempo, meu espaço, segue pirilampo...
 
 
por JONAS FURTADO

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Via Láctea



É assim. Quando a água estiver quase fervendo, acrescenta-se o pó de café, colher a colher, até que a consistência não fique rala ou muito densa; dilua homogeneamente. Acrescenta-se açúcar e mexa leve e longamente.
A imagem formada na superfície do caldo – pedaço do universo antes do filtro.

by Jonas Furtado

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Motivo da caneta

OUTRO ACHADO MEU, DO TEMPO EM QUE ESTAVA TREINANDO SER POETA. RSRSRS - VAMOS LÁ!


Dou-te motivo para escrever...
Esse mundo não pode esquecer
Dou-te motivo para lembrar
Lembar que esse mundo tem que amar


Dou-te motivo para escrever
Existe criança pra crescer
Dou-te motivo até pra cantar
Cantar pra esse mundo, e não calar
 
Minha caneta, pensa já em ser
A vara de condão pra fazer
Vobrar uma alegre canção no ar
 
Dou-te motivo, mesmo a sonhar
E um mundo bem melhor conhecer
E isto eu gostaria de escrever.
(by Jonas Furtado - 1995)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Uma máquina extraviada de Ponta

Olhava para a máquina de gelo... Que gelo! Um bloco branco a abrasar meu semblante.
Ainda se lembrava do que lera: “A máquina extraviada”, de José J. Veiga. E a mesma necessidade dessa a sua vista – a vista!
Pensou: instalada perto da ponte, ficaria prática a serventia – os barcos aportariam e abasteceriam... O pescado nas geleiras duraria tempo de chegar, de vender, de preparar e de comer... Mas só pensou. Serventia, nada!
Com os momentos se fotografando no disco rígido da história, aquela máquina de gelo, bloco frio pesando no esquecimento, passou a ser monumento erguido a algo que precisamos destacar, sopesando. E que nenhum corrupto venha levar as peças! E que nenhum gigolô destrate a peça de sua serventia! Qual?
_ Mas como?! - indignou-se um.
Sem ela ali, perderemos a identidade. No final, disse, meditando: “A máquina não foi só extraviada; ela extraviou-nos!”.

by Jonas Furtado